Existimos porque resistir é uma necessidade na vida das pessoas pobres periféricas.


Quem Somos
Luta. Para nós, luta é verbo que conjugamos a cada ação

Foi na luta pela democratização da universidade que nascemos, em 2010, como parte integrante do movimento Rede Emancipa, até 2016, quando nos tornamos um cursinho autônomo. Sempre do lado sul do mapa, nossa casa é a periferia do Capão Redondo, onde fizemos morada e criamos raízes em uma escola pública cedida. Existimos porque resistir é uma necessidade na vida das pessoas pobres e periféricas.

Idealizamos e lutamos por uma sociedade igualitária. É isso que nos move! E é através da educação que buscamos transformar a realidade, propondo um espaço de educação popular que desenvolva a autonomia, promova o pensamento crítico e fortaleça os sujeitos na luta pela superação das opressões sociais. Mais do que o ingresso na universidade, lutamos pelo fim do funil social chamado vestibular, pela democratização do ensino superior, e por uma educação libertadora. Em outras palavras, a nossa luta é por uma educação democrática, que só pode acontecer em uma escola pública de qualidade.

Nós temos um projeto de educação aliado a uma luta social e política, e o cursinho é a nossa ferramenta para efetivar a transformação social que acreditamos, é a nossa intervenção na realidade. Ação que gera muitos frutos, afinal não é à toa que iniciamos, em 2010, com uma sala com 20 estudantes, e, no ano de 2017, mais de mil se matricularam para preencher 13 turmas lotadas [de amor]. Foram quase 4 mil estudantes em 7 anos de história!

Para nós, a gratuidade da educação é imprescindível. A educação só pode ser um direito se for gratuita, sem pedágios. Cobrar por educação a transforma em privilégio de poucos e sucateia o ensino público para valorizar o privado, e é por essa convicção política que o cursinho sempre foi e sempre será gratuito. Nosso projeto é a luta pelo fim das catracas na educação.

A sala de aula, para nós, é um espaço muito precioso, onde o mundo se faz presente e há um diálogo possível entre os conteúdos didáticos e a vivência empírica, resultando em saberes significativos, não só para o vestibular, mas para a vida.

Entretanto, temos a convicção de que a educação se dá para muito além da sala de aula. Nós aprendemos e ensinamos continuamente em todos os espaços do nosso cursinho. Nosso espaço é (e deve ser sempre) lugar de construção coletiva, de diálogo, de acúmulo de reflexões e vivências, lugar de luta.

Luta são nossos braços e pernas, que todos os sábados erguem salas de aula e trocas de conhecimento. Luta é nosso fôlego e suor que sustentam a estrutura do projeto pela militância, recusando qualquer forma de financiamento que cerceia a liberdade de ação e pensamento. Somos nós por nós. Somos a narrativa periférica cuja voz é a composição das nossas vozes.

Cursinho porque oferecemos aulas preparatórias para a universidade.

Popular porque acreditamos que educação é um direito e não uma mercadoria.

Carolina de Jesus porque se LUTA fosse uma pessoa com certeza seria uma mulher preta periférica.

Carolina Maria de Jesus

Nossa força já vem com o nome: Carolina Maria de Jesus. Mulher. Preta. Periférica. Seu nome é sinônimo de luta, e sua vida sempre foi uma verdadeira batalha que nos inspira até hoje. Retirante mineira, veio para São Paulo na década de 1930, onde morou na favela do Canindé, sustentando seus filhos como catadora de lixo. Carolina de Jesus frequentou a escola por apenas 2 anos e sonhava em ser escritora. Escreveu seus livros nos papéis e sacos de pão que encontrava no lixo, retratando a vida das pessoas pobres e denunciando a exploração e mazelas sociais. Seus livros foram traduzidos para mais de 10 idiomas e vendidos em 40 países. Nas palavras de Carolina de Jesus*:

“Escrevo a miséria e a vida infausta dos favelados.”

“Eu era revoltada, não acreditava em ninguém. Odiava os políticos e os patrões, porque o meu sonho era escrever e o pobre não pode ter ideal nobre. Eu sabia que ia angariar inimigos, porque ninguém está habituado a esse tipo de literatura. Seja o que Deus quiser. Eu escrevi a realidade.”

Carolina de Jesus foi resistência e para nós é espelho. Queremos como ela ser autores das nossas histórias, nos biografar através da educação como um ato de libertação.

*  (“Quarto de despejo: diário de uma favelada”. Autora: Carolina Maria de Jesus. São Paulo: Edição Popular, 1960.)