PARTE 1
Capital Cultural
Vídeo: Capital Cultural. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=a3eO6-D4nHo
Dentro desse debate sobre classe, que papel será que tem a escola? Será que os conteúdos são transmitidos igualmente, como o sistema escolar faz parecer? Para entender um pouco sobre isso, vamos entender um conceito chamado Capital Cultural.
Capital Cultura é um conceito desenvolvido pelo sociólogo francês Pierre Bourdieu que entendia a cultura como um bem simbólico e quanto mais se tem, maior são as recompensas ao longo da vida. Antes de continuarmos, é importante entender que cultura é o conjunto dos hábitos sociais, das manifestações intelectuais e artísticas, valores e significados que orientam e dão personalidade a um determinado grupo social. Para ele, pessoas pertencentes às classes sociais mais favorecidas recebem esse capital cultural como uma herança de suas famílias e essa diferença se torna explícita no processo de aprendizagem nas escolas. A família e a escola ganham destaque como as principais instituições de transmissão de capital cultural.
No ambiente familiar, por exemplo, somos expostos (ou não) às competências linguísticas e à familiarização de conteúdo que posteriormente serão cobrados nas escolas. Os alunos que não tiveram contato, através de suas famílias, com os códigos culturais valorizados pela escola terão mais dificuldade de assimilar o conteúdo que é transmitido. Em seus estudos, o Bourdieu notou que o estoque de capital cultural entre as crianças na escola era diferente e variava de acordo com a classe social a qual pertenciam. As crianças que chegavam à escola com capital cultural mais valorizado pertenciam às classes dominantes, eram melhor recompensadas pelos professores e apresentavam maior predisposição para aprender. Já os alunos de classes desfavorecidas eram exatamente os que não tiveram contato com o capital cultural através da família e acabavam sendo marginalizados no ambiente escolar, ou seja, não recebiam a mesma atenção que aqueles que previamente dominavam os conteúdos.
É evidente que todos nós dispomos de competências e saberes. O que acontece é que eles são valorizados de forma desigual. Um determinado saber é reconhecido e legitimado como tal, tornando-se digno de crédito, elevando-se ao título de capital cultural. Vale lembrar que todo capital, seja qual for, subentende uma relação de dominação. De acordo com Bourdieu, em uma sociedade dividida em classe como a nossa, a cultura se transforma em uma espécie de moeda e, consequentemente, em instrumento de dominação – a classe dominante impõe sua própria cultura, dando-lhe um valor incontestável. Já ouviu falar em “cultura boa”? Bourdieu chamava isso de arbitrário cultural dominante, que nada mais é do que uma cultura que se impões a outra. E essa dinâmica é fortalecida pela escola que acaba favorecendo alguns alunos em detrimento de outros, tornando desigual a transmissão de conteúdo e aprendizagem.
REFERÊNCIAS
BOURDIEU, Pierre. Os três estados do capital cultural. Disponível em: https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/4942298/mod_resource/content/1/BOURDIEU%2C%20Pierre.%20Os%20tr%C3%AAs%20estados%20do%20capital%20cultural.pdf
Vídeo: Capital Cultural. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=a3eO6-D4nHo
PARTE 2
Artes
O capital cultural consiste em um processo de diferenciação quase tão poderoso como o do capital econômico, uma vez que toda uma nova lógica da luta política só pode ser compreendida tendo-se em mente suas formas de distribuição e evolução e esta lógica está atrelada a uma relação de dominação social por meio do capital. Para exemplificar, ao olhar através das diversas expressões artísticas é possível identificar características que ressaltam essas lógicas sociais, onde estão atrelados a também ao sistema de dominação onde a classe e o trabalho tornam-se elemento narrativo.
(Texto adaptado) O Artista e o Mecenato
As artes há muito tempo se encontram ligadas a pessoas de poder e status. Na Grécia antiga as artes plásticas serviam à arquitetura e às esculturas. No renascimento o sistema das artes estava nas mãos de políticos e religiosos. De fato, o patrocínio sempre proporcionou o surgimento de grandes nomes nas artes. Governantes europeus, o clero e, mais tarde, a incipiente burguesia, propiciaram apoio financeiro aos artistas, e, dessa forma, os “mecenas”, tornavam-se reconhecidos no meio social onde atuavam, principalmente, no meio religioso.
Outros, para garantir sua sobrevivência e a continuidade de sua atuação, ligavam-se a nobreza, às municipalidades ricas, ou às grandes famílias burguesas, quando atuavam como mestres e preceptores dos jovens. No século XV, artistas como Verrocchio, Donatello, Botticelii, eram considerados artesãos de um grau superior. Além de quadros, são produzidos brasões, bandeiras, entalhes em madeira, padrões de tapeçaria entre outros.
No final do século XVIII, começam a ser valorizadas as coleções particulares, por amadores e especialistas das artes. Ocorre uma substituição do mecenato do Estado, para um mecenato particular. Aqui começa um novo tipo de investimento nas artes, podemos dizer que, nesta época começa a se desenvolver um mercado de arte.
Com o surgimento da fotografia em meados do século XIX, os artistas não são mais requisitados a pintar os retratos dos seus governantes e suas famílias. O artista passa a ter maior liberdade, afastando-se da arte de cópia da realidade. É o início de uma nova filosofia nas artes plásticas, a arte pela arte. Sobretudo, uma arte que não está à disposição de algo ou de alguém. O que falta agora é o capital.
Ainda no século XIX, o artista sai do seu ateliê em busca de novos horizontes. A arte está para satisfazer seus desejos internos, inclusive refletia uma visão social e política.
Adriana Donato – https://www.culturaemercado.com.br/site/author/adrianadonato/
Com a Revolução Industrial iniciada na Inglaterra e espalhando-se por outros países, o capitalismo começava a se fixar nos grandes centros urbanos. Diante dessas mudanças na economia, o movimento conhecido como Realismo crescia marcado pela presença de rebeliões e insatisfações políticas, já que o capitalismo favoreceu mais a classe burguesa.
Foi nessa fase que os autores do Realismo encontraram a oportunidade de relatar a dificuldade encarada pela sociedade em suas obras.
Diferente dos antigos movimentos culturais, as obras sociais apresentavam um forte caráter ideológico, marcado por uma linguagem política e de denúncia dos problemas sociais, tais como miséria, pobreza, exploração, corrupção, entre outros.
QUESTÃO 1
Nas artes plásticas, principalmente em obras do Realismo, os artistas buscavam expressar em suas telas a realidade do dia a dia das pessoas. As cenas mais retratadas era a da camada menos privilegiada da sociedade. Para expressar os sentimentos de tristeza vivido por essas pessoas, os artistas usavam cores fortes, realçando a expressividade dos traços. Assim O quadro Os Quebradores de Pedra (Courbet) trata-se:
A) da produção de sensações e percepções visuais a partir das condições de luz e dos contrastes cromáticos;
B) da utilização de materiais de baixo custo, com o intuito de eliminar as barreiras sociais entre a arte e o povo;
C) de um manifesto nu e cruento sobre o trabalho braçal a que estavam submetidos os camponeses, mas que poderia, ainda hoje, simboliza a vida de muitos trabalhadores espalhados pelo mundo.
D) da superação do realismo na arte, com correspondências entre o mundo objetivo e seus significados simbólicos.
QUESTÃO 2
Cândido Portinari conseguiu retratar em suas obras o dia a dia do brasileiro comum, procurando denunciar os problemas sociais do nosso país. No quadro Os Retirantes, produzido em 1944, Portinari expõe o sofrimento dos migrantes, representados por pessoas magérrimas e com expressões que transmitem sentimentos de fome e miséria.
Sobre o tema desta obra, afirma-se:
I. Essa migração foi provocada pelo
baixo índice de mortalidade infantil do Nordeste, associado à boa distribuição
de renda na região.
II. Contribuíram para essa migração os problemas de cunho social da região Sul,
com altas taxas de mortalidade infantil.
III. Os retirantes fugiram dos problemas provocados pela seca, pela desnutrição
e pelos altos índices de mortalidade infantil no Nordeste.
IV. Contribuíram para essa migração a desigualdade social, no Nordeste.
É correto apenas o que se afirma em:
A) I.
B) I e II.
C) II, III e IV.
D) III e IV.
PARTE 3 –
Literatura
O cortiço, naturalismo
Texto 1:
Determinismo: Hippolyte Taine, meio + raça + momento.
Positivismo: Auguste Comte, “Ordem e progresso”. O conhecimento é dado pelo empirismo.
Darwinismo (social): Charles Darwin, o homem é um animal portanto está sujeito a seleção natural.
Contexto Histórico: No Brasil, o final do século XIX é marcado pela Proclamação da República (15 de novembro de 1889), que encerra a monarquia no Brasil destituindo o então imperador Dom Pedro ll. A capital do país ainda é o Rio de Janeiro. Em 1888, princesa Isabel assina a Lei áurea abolindo dos meios oficiais a escravatura. Ainda nesse período, houve a segunda revolução industrial, resultado de uma burguesia em ascensão, tudo isso aumentou a produtividade por consequência nasce o movimento operário.
Texto 2: “O cortiço narra com efeito a ascensão do taverneiro português João Romão, começando pela exploração de uma escrava fugida que usou como amante e besta de carga, fingindo tê-la alforriado, e que se mata quando ele a vai devolver ao dono, pois, uma vez enriquecido, este precisa liquidar os hábitos do passado para assumir as marcas da posição nova. Mas a verdadeira matéria-prima do seu êxito é o cortiço, do qual tira um máximo de lucro sob a forma de aluguéis e venda de gêneros”.
In: CANDIDO, Antonio. De cortiço a cortiço. In: CANDIDO, Antonio. O discurso e a cidade. Rio de Janeiro: Ouro Sobre Azul, 2015. p. 107-132.
1. Levando em consideração os textos acima, responda.
O livro “O cortiço” de Aluísio Azevedo é um livro chave do naturalismo, por
- Narrar a história de um capitalista, e ser um romance sobre aluguéis e vendas de cortiços.
- Dialogar diretamente com a crise de Dom Pedro ll, causada pela Guerra do Paraguai, e com a abolição da escravatura.
- Trabalhar as personagens tipo, como o João Romão, que por sua vez, é afetado pelo cortiço, seu meio.
- Trabalhar as personagens tipo, como o Jerônimo, que por sua vez, é afetado pelo cortiço, seu meio.
Texto 3:
Enredo: João Romão é um português dono de uma quitanda, pedreira, e do cortiço, onde explora seus funcionários, clientes e moradores a fim de acumular riquezas e ser bem visto perante a população. Ao seu lado está Bertoleza, uma escrava fugida que João “acolheu” para ser sua amante e funcionária. Contrapondo João está Miranda, outro português que é casado com Dona Estela. Eles moram em um sobrado ao lado de João e têm uma filha chamada Zulmirinha, é um comerciante reconhecido e respeitado, ele acaba nomeado Barão, algo que irrita profundamente o quitandeiro. No Cortiço está a população mais carente que não tem para onde ir e se refugia nesses lugares. Os mais destacados são: Rita Baiana, uma mulata sensual que sempre que pode realizada pagodes; Firmo, um mulato que está envolvido com Rita Baiana; Jerônimo, um português que trabalha na pedreira de João Romão e se apaixona por Rita Baiana e pela vida brasileira; e Piedade, esposa de Jerônimo que está sempre com saudade de Portugal e percebe que seu marido se apaixonou por Rita. Quando João soube que Miranda recebera o título de Barão, ele faz diversas mudanças no cortiço para transformar numa vila; a Vila João Romão, para que ele seja bem visto na alta sociedade. Assim, João faz as pazes com Miranda e pede a mão da filha dele em casamento, porém havia um problema, Bertoleza. Sendo assim, ele avisa que havia uma escrava fugida, e desesperada Bertoleza comete suicídio, deixando o caminho livre para o casamento de João Romão.
2. Sobre o romance O cortiço, de Aluísio Azevedo, assinale com V (verdadeiro) ou F (falso) as seguintes afirmações.
( ) No romance, a ex-escrava Bertoleza é a companheira de João Romão, por ele tratada com respeito, o que dá mostras do tom conciliatório do livro, que trata a escravidão como problema resolvido.
( ) No início do romance, está o vendeiro português João Romão que, com força de trabalho e boa dose de oportunismo, constrói o cortiço, seu primeiro caminho para a ascensão social.
( ) No romance, Dona Estela, sempre descrita pelo narrador como uma dama séria e decorosa, sofre com as constantes traições de seu marido Miranda.
( ) No sobrado contíguo ao cortiço de João Romão, vivem Miranda, Dona Estela e a filha Zulmirinha, família financeiramente confortável, que cria sinceros vínculos de amizade com João Romão e Bertoleza.
A sequência correta de preenchimento dos parênteses, de cima para baixo, é:
- V-F-V-F
- F-V-F-V
- F-V-F-F
- V-V-F-F
Texto 4: “São dois os espaços explorados na obra. O primeiro é o cortiço, amontoado de casebres mal-arranjados, onde os pobres vivem. Esse espaço representa a mistura de raças e a promiscuidade das classes baixas. Funciona como um organismo vivo. Junto ao cortiço estão a pedreira e a taverna do português João Romão.
O segundo espaço, que fica ao lado do cortiço, é o sobrado aristocratizante do comerciante Miranda e de sua família. O sobrado representa a burguesia ascendente do século XIX. Esses espaços fictícios são enquadrados no cenário do bairro de Botafogo, explorando a exuberante natureza local como meio determinante”.
In:https://guiadoestudante.abril.com.br/estudo/o-cortico-analise-da-obra-de-aluisio-de-azevedo/ acesso em 20/04/20.
3. Levando em consideração o texto sobre o os espaços da obra, e os textos anteriores responda. Sobre o espaço da obra em relação ao naturalismo, podemos dizer que
- O espaço do Rio de Janeiro é elemento determinante para o livro pertencer ao naturalismo brasileiro.
- O espaço do cortiço é um ponto de ligação com o sobrado do comerciante Miranda, por ser uma metáfora da ascensão burguesa.
- O cortiço e o sobrado são espaços que diferem socialmente, representando uma questão de classe.
- A taverna do João Romão representa o elo de empirismo da personagem.
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